16/10/2025

Primeiro dia do Congresso SOCERGS 2025 destaca temas como inteligência artificial, obesidade e prevenção da hipertensão

As discussões mostraram como a cardiologia moderna está cada vez mais conectada a temas do cotidiano, como alimentação, controle do peso e prevenção da hipertensão, além de apontar o papel crescente da inteligência artificial no diagnóstico e no cuidado com o paciente

O primeiro dia do Congresso SOCERGS reuniu, nesta quinta-feira (16/10), no Centro de Eventos Wish Serrano, em Gramado, médicos cardiologistas e profissionais da saúde de diversas regiões do país para uma jornada de atualização científica e troca de experiências. A integração entre inovação, ciência e prática clínica marcou o início de um dos maiores eventos médicos do Estado, consolidando o compromisso da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul com a excelência no cuidado cardiovascular.

Do esporte à inovação

Ao longo do dia, uma série de aulas demonstraram o quanto a especialidade está próxima ao dia-a-dia das pessoas. Na sessão “Respostas Curtas para Questões Relevantes – Cardiologia Geral”, moderada pelos médicos cardiologistas Dr. Jairo Monson de Souza Filho e Dr. Salvador Sebastião Ramos, os especialistas discutiram desde a avaliação de quem pratica esportes por lazer até os riscos do uso de anabolizantes, passando por temas como pressão alta, apneia do sono e desmaios de causa cardíaca. A médica Drª Estefania Inez Wittke salientou a importância da consulta com o cardiologista antes da prática de exercícios físicos.

"A procura por avaliação cardiológica antes da prática esportiva tem crescido, e isso é muito positivo. Cada vez mais pessoas entendem que o exercício faz bem, mas precisa ser feito com segurança e acompanhamento. Mesmo quem se sente saudável deve fazer uma consulta, especialmente se houver histórico familiar de infarto ou morte súbita. Doenças cardíacas podem se manifestar de forma silenciosa, inclusive em jovens. Exames simples, como o eletrocardiograma e a medição da pressão arterial, ajudam a identificar riscos antes que algo grave aconteça. Atividade física é fundamental para a saúde, mas deve ser sempre iniciada com orientação médica e feita de forma gradual e responsável”, destacou a Dra. Estefânia Inês Wittke, cardiologista.

Já o Dr. Daniel Souto Silveira alertou que “os anabolizantes podem trazer ganhos rápidos na aparência, mas cobram um preço alto da saúde cardiovascular”.

“Estamos vivendo uma verdadeira pandemia de uso de anabolizantes. É cada vez mais comum ver pessoas utilizando essas substâncias de forma abusiva em busca de performance estética, o que traz riscos sérios à saúde. O uso para fins de ganho muscular é proibido pelo Conselho Federal de Medicina e pode aumentar em até cinco vezes o risco de morte súbita. Mesmo após interromper o uso, os efeitos cardiovasculares podem persistir por até dois anos. Em homens, a reposição de testosterona só deve ocorrer quando há deficiência comprovada, e em mulheres, é totalmente contraindicada — práticas como o ‘chip da beleza’ pioram o colesterol e elevam o risco de infarto e diabetes. Antes de qualquer decisão, é fundamental consultar um médico e realizar exames como eletrocardiograma e ecocardiograma para garantir segurança”, alertou o Dr. Daniel Souto Silveira, cardiologista.

Na sequência da programação, o público acompanhou a Conferência Internacional, que trouxe uma visão global sobre os avanços na cardiologia moderna. Sob moderação dos médicos cardiologistas Dr. Alexandre do Canto Zago e Dr. Luiz Antônio Nasi, o convidado internacional Dr. Rhanderson Cardoso, dos Estados Unidos, apresentou novas abordagens sobre o uso da angioTC coronária no manejo personalizado de pacientes com doença arterial coronariana (DAC).

“O paradigma que seguimos na prevenção é simples: quanto maior o risco basal do paciente, maior a redução absoluta do risco. Pacientes com grandes quantidades de placa, mesmo assintomáticos ou sem sinais claros de obstrução coronária, devem ser tratados com uma abordagem mais agressiva, pois isso reflete um risco maior. Isso implica diretamente em como manejamos esses pacientes”, afirmou.

A sessão “Conexão Cardiometabólica” destacou como o coração e o metabolismo estão intimamente ligados e como essa relação influencia a saúde de forma ampla. Sob a coordenação dos médicos cardiologistas Dr. Euler Roberto Fernandes Manenti e Dr. Ricardo Santos Holthausen, o painel reuniu especialistas que discutiram a importância do controle de fatores como diabetes, colesterol e obesidade na prevenção de doenças cardiovasculares.

Avanços, Desafios e Tendências na Prática Cardiológica

As mesas-redondas do Congresso SOCERGS 2025 mostraram como a cardiologia moderna vai muito além dos exames e medicamentos — ela dialoga com comportamento, tecnologia e prevenção. Entre os destaques, a mesa sobre “Novas Fronteiras no Tratamento da Obesidade” reforçou que o excesso de peso é um fator de risco silencioso e multifatorial, que exige mudanças de hábitos e acompanhamento contínuo. O cardiologista Dr. Mauro Pontes participou do debate sobre obesidade no Congresso SOCERGS 2025, abordando os desafios enfrentados pelos pacientes com doenças cardíacas, com ênfase em arritmias e insuficiência cardíaca. Segundo o especialista, a incidência dessas condições tem aumentado significativamente, com previsões de que, até 2030, cerca de 3 milhões de pessoas serão diagnosticadas com doenças cardíacas.

“Por isso a importância da conscientização sobre os riscos associados à insuficiência cardíaca, particularmente em pacientes com excesso de peso, arritmia e doenças hepáticas, frequentemente agravadas pela ingestão excessiva de gordura. Estamos observando um aumento significativo da incidência dessas doenças, o que exige mais atenção e tratamento especializado. O tratamento da insuficiência cardíaca, especialmente nos casos em que o coração preserva sua capacidade de contração, mas encontra dificuldades para relaxar, tem sido uma área de intenso debate e inovação”, afirmou Dr. Mauro Pontes.

Outro momento de grande interesse foi a mesa dedicada à “Hipertensão Arterial”, que discutiu desde o diagnóstico até as melhores estratégias de controle em diferentes perfis de pacientes.

“Os riscos cardiovasculares estimados em estudos observacionais são reais — e a matemática por trás deles não se discute. É como dizer que 2 + 2 é igual a 4: há espaço para interpretações, mas não para negar a lógica dos números. A ciência é cartesiana nesse ponto. Assim como na geometria, onde a soma dos ângulos de um triângulo sempre será a mesma, na cardiologia também lidamos com verdades estatísticas sólidas. O que muda é a forma como interpretamos e aplicamos esses dados na prática clínica. Nós, cientistas, temos vaidades — não as das redes sociais, mas as ligadas ao reconhecimento pelo impacto do nosso trabalho, medido por indicadores que hoje estão ao alcance de todos”, lembrou o Dr. Flavio Danni Fuchs.

A sessão sobre “Cardiologia Digital e Inteligência Artificial” despertou curiosidade e entusiasmo ao mostrar, na prática, como novas tecnologias estão ajudando médicos a diagnosticar e tratar doenças de forma mais precisa. A médica cardiologista Dra. Gabriela Bem apresentou uma análise comparativa das principais diretrizes sobre rastreamento de arritmias e fibrilação atrial, tema de grande relevância para a prevenção de eventos cardiovasculares graves, como o acidente vascular encefálico (AVE).

Durante a sessão, a especialista explicou que as recomendações variam conforme o país e o perfil dos pacientes. “A diretriz europeia sugere o rastreamento em consultas de rotina a partir dos 65 anos, com a possibilidade de monitorização prolongada — por meio de dispositivos implantáveis — em pessoas acima de 75 anos, ou em maiores de 65 que tenham fatores de risco adicionais”, detalhou.

Ela destacou, no entanto, que há divergências entre as abordagens. “A diretriz americana não endossa esse rastreamento ampliado por faixa etária, enquanto a diretriz brasileira recomenda uma avaliação mais individualizada, levando em conta a suspeita clínica e o perfil de risco de cada paciente”, ressaltou a Dra. Gabriela Bem.

“Chega de Enrolar, eu quero uma resposta!”

A sessão especial “Chega de Enrolar, eu quero uma resposta!” foi um dos momentos mais dinâmicos do dia, reunindo especialistas que enfrentaram perguntas diretas sobre casos clínicos complexos — sem tempo para hesitar. Com moderação dos médicos cardiologistas Dr. Eraldo de Azevedo Lúcio, Dr. Leandro Espíndola Roese, Dr. Edimar Dall’Agnol de Lima, Dr. Raphael Boesche Guimarães, Dr. Carlos Delmar do Amaral Ferreira e Dr. Pedro Piccaro, o encontro abordou situações que fazem parte do cotidiano da cardiologia, como pacientes com estenose aórtica assintomática, fibrilação atrial em jovens, lesões coronarianas graves e aneurismas de aorta torácica.

Conexão Cardiometabólica

A Conexão Cardiometabólica mostrou trouxe para discussão, diabetes, obesidade, colesterol e estilo de vida, lembrando que alimentação saudável, prática de exercícios e controle de fatores metabólicos são pilares fundamentais para evitar doenças cardiovasculares. Sob a moderação dos médicos cardiologistas Dr. Euler Roberto Fernandes Manenti e Dr. Ricardo Santos Holthausen, o debate reuniu especialistas que abordaram como pequenas mudanças de rotina podem gerar grandes resultados para a saúde. O convidado internacional Dr. Rhanderson Cardoso encerrou o painel destacando o papel do escore de cálcio, exame que ajuda a identificar precocemente riscos no coração, mesmo antes do surgimento dos sintomas.

Respostas Curtas para Questões Relevantes

A sessão “Respostas Curtas para Questões Relevantes – Síndrome Coronariana Aguda” trouxe um tema que desperta atenção de médicos e pacientes: o infarto e suas diferentes formas de manifestação. Coordenada pelos cardiologistas Dr. Daniel Souto Silveira e Dr. Paulo Ricardo Avancini Caramori, a atividade apresentou respostas objetivas para dúvidas que fazem parte da prática clínica e da vida de quem convive com fatores de risco.

Controvérsias

A sessão “Controvérsias” foi um dos momentos mais envolventes do Congresso, colocando frente a frente especialistas que defenderam diferentes pontos de vista sobre decisões complexas da cardiologia atual. Moderada pelos médicos cardiologistas Drª Marcela da Cunha Sales e Dr. Iran Castro, a atividade explorou dilemas que estão cada vez mais presentes na prática médica e nas escolhas de tratamento. O público acompanhou discussões sobre quando optar pela cirurgia tradicional ou pela TAVI em casos de estenose aórtica, a necessidade de terapias duplas após o infarto, e até se pacientes com insuficiência cardíaca recuperada devem continuar com todos os medicamentos por tempo indeterminado.

Campanha “Ouça seu Coração”

Como parte da programação do congresso, foi realizada a apresentação da campanha “Ouça seu Coração”, uma iniciativa que busca a conscientização sobre os cuidados com os válvulas cardíacas. O idealizador e coordenador da iniciativa, o cirurgião cardiovascular Dr Eduardo Keller Saadi, que também é um dos palestrantes do evento científico, expôs as ações que estão sendo desenvolvidas para promover a prevenção da valvulopatias. O especialista reforça o papel essencial dos médicos na profilaxia já que eles têm o contato direto com os pacientes e podem identificar os primeiros sinais.

Redação: Marcelo Matusiak

 


Legenda: Primeiro dia do Congresso SOCERGS 2025
Créditos: Rafael Cavalli
Legenda: Primeiro dia do Congresso SOCERGS 2025
Créditos: Anselmo Cunha
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Créditos: Anselmo Cunha
Legenda: Primeiro dia do Congresso SOCERGS 2025
Créditos: Anselmo Cunha
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Créditos: Rafael Cavalli