16/06/2025
Padre Cacique: um legado de fé, solidariedade e amor pelos invisíveis
Artigo de Opinião: colaboradora do Asilo Padre Cacique Jane Beatriz
Em tempos de hiperconectividade, em que a informação circula na velocidade de um clique, pode parecer difícil lembrar de figuras que, em silêncio e com sacrifício pessoal, ergueram verdadeiros monumentos de solidariedade. É o caso do Padre Joaquim Cacique de Barros, cujo nome batiza o Asilo Padre Cacique, instituição que neste mês celebra 127 anos de existência como símbolo da caridade gaúcha.
Nascido em 11 de agosto de 1831, na Bahia, Padre Cacique chegou a Porto Alegre em 1862, com apenas 32 anos, determinado a servir os mais vulneráveis — crianças desamparadas e idosos esquecidos. Veio sem posses e faleceu em 13 de maio de 1907, num quarto simples no próprio asilo que fundou, sem bens materiais, mas cercado por um imenso patrimônio espiritual.
Como, então, um homem sem fortuna conseguiu construir instituições tão relevantes? A resposta está na força do exemplo. Cristão convicto, Padre Cacique mobilizou uma cidade inteira por meio de sua fé, integridade e persistência. Recebeu apoio da população, de autoridades imperiais e, segundo relatos, da própria Princesa Isabel. Era um homem culto — professor no Mosteiro de São Bento e no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, onde lecionou para Ruy Barbosa e Castro Alves — e resiliente frente às adversidades.
Fundou o Asilo Santa Teresa e, em 1881, iniciou a construção do Asilo de Mendicidade, hoje conhecido como Asilo Padre Cacique, à beira do Guaíba. Atuou como operário, arquiteto e administrador, ao lado do engenheiro Álvaro Pereira. “Não quero lançar a primeira pedra, e sim a última”, dizia. A obra foi concluída em 1898, e o local se tornou referência em acolhimento. Após sua morte, seus restos mortais foram trasladados para o jazigo sob o altar da capela da instituição — onde repousa, com justiça, o coração de um benfeitor eterno.
Hoje, o Asilo Padre Cacique é uma das principais instituições filantrópicas do Brasil. A tecnologia e a comunicação moderna permitiram que sua missão ganhasse ainda mais visibilidade. Vivemos outros tempos, com novos valores e demandas. Os idosos de hoje reivindicam seus direitos, expressam desejos e seguem sonhando. Mas há algo que o tempo não apagou: a gratidão.
Obrigado, Padre Cacique, por este lar abençoado. Seu legado, mais do que material, é uma herança viva de compaixão, humildade e fé — que resiste ao tempo e continua a inspirar gerações.
Colaboradora do Asilo Padre Cacique, Jane Beatriz