16/05/2025

Hesitação vacinal ameaça conquistas históricas da imunização infantil no Brasil

Em meio aos 50 anos do Programa Nacional de Imunizações, especialista da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul alerta para os impactos da desinformação e da baixa percepção de risco entre pais e adolescentes

A celebração dos 50 anos do Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2024 reforçou uma trajetória de vitórias no combate a doenças imunopreveníveis no Brasil. No entanto, a hesitação vacinal, impulsionada por desinformação, complacência e barreiras de acesso, coloca em risco essas conquistas, especialmente entre crianças e adolescentes. O alerta é do médico pediatra e membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), Juarez Cunha, que tem analisado os principais fatores por trás da queda nas coberturas vacinais. 
 
O tema foi abordado no XVII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria no Centro de Convenções Barra Shopping, que acontece entre 15 e 17 de maio. O evento é uma realização da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. Em cinco décadas, o PNI contribuiu para o controle ou eliminação de muitas doenças, como poliomielite, rubéola, tétano neonatal e sarampo, além de ter evitado milhões de mortes no Brasil. Dados publicados na revista científica The Lancet apontam que, globalmente, apenas com as vacinas contra sarampo, tétano, coqueluche e tuberculose, mais de 144 milhões de mortes foram evitadas e mais de 9 bilhões de anos de saúde plena foram garantidos. Contudo, esse cenário positivo vem sendo ameaçado. 
 
“A hesitação vacinal é multifatorial. Ela envolve desde a confiança na eficácia e segurança das vacinas até aspectos como acesso, influência de grupos antivacina e percepção equivocada sobre os riscos das doenças”, explica o médico pediatra da SPRS, Juarez Cunha. Ele ainda destaca que essa resistência tem sido mais acentuada entre jovens e pessoas de menor status socioeconômico, principalmente após a pandemia de COVID-19.
 
Segundo o médico, fatores como novas políticas de saúde, divulgação de relatos adversos e até mesmo a polarização política influenciam diretamente na decisão dos pais e responsáveis sobre a vacinação dos filhos. 
 
“A desinformação digital, muitas vezes reforçada por crenças extremistas e preferências por práticas alternativas de saúde, tem um papel central em minar a confiança da população”, afirma.
 
Para enfrentar esse desafio, a SPRS defende estratégias de comunicação eficazes, campanhas contínuas de conscientização e políticas públicas que garantam acesso facilitado às vacinas. O objetivo é restaurar a confiança e a adesão ao calendário vacinal, especialmente entre crianças e adolescentes, grupo que vem apresentando quedas preocupantes na cobertura.
 
Redação: Marcelo Matusiak
 
 

Legenda: Dr. Juarez Cunha
Créditos: Marcelo Matusiak
Legenda: Dr. Juarez Cunha
Créditos: Marcelo Matusiak
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